Em 2015, a Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceu o que vem sendo chamado de Agenda 2030, estipulando os 17 itens batizados de Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, subdivididos em 169 metas mais específicas. Agrupadas sob o “ODS 3 – Saúde e bem-estar”, entre itens como reduzir a mortalidade por doenças transmissíveis e reduzir a incidência de epidemias, lá está ela: promover a saúde mental.
Nunca se falou tanto em saúde mental quanto nas últimas décadas, especialmente nos anos 2010. Será que, ao combater as patologias que acometem o corpo físico, o mundo finalmente abriu espaço para que se discutisse os males que atacam o psicológico? Nem a ciência é capaz de responder se estamos mais doentes, mentalmente, ou se apenas falamos mais sobre isso e entendemos melhor estas condições do que as entendíamos meio século atrás.
Em um discurso em 2018, o secretário-geral da ONU, António Guterres, resgatou a informação de que uma em quatro pessoas experimenta um episódio de saúde mental durante a sua vida e sugeriu que essa é a chave para alcançar uma grande parte dos ODS. Para a ONU, não se cuida do corpo, sem antes cuidar da cabeça.
No entanto, essa premissa tão básica e conhecida, até mesmo vivenciada por executivos e gestores dos mais diversos segmentos, segue sendo negligenciada em tantas companhias. Seja porque muitas não considerem o impacto que o trabalho tem sobre a saúde mental dos colaboradores, seja porque desconhecem também o caminho contrário: o retorno que tem para a companhia a preocupação com as condições psicológicas de seus funcionários.
De acordo com estudos em psicanálise e psicoterapia chancelados pelas Nações Unidas, os principais fatores de impacto sobre a saúde mental são pré-condições de nascimento, crescimento, idade e… trabalho. E a recíproca também é verdadeira. A depressão interfere na capacidade de uma pessoa de completar tarefas profissionais com sucesso em 20% e reduz a performance cognitiva em 35% do tempo.
Uma pesquisa da universidade de Peking, na China, com nove companhias diferentes encomendada pela varejista Credibility Enterprise aplicou um método de intervenção visando a saúde mental dos empregados e dos gestores, em três anos de acompanhamento dos envolvidos, identificou melhorias consideráveis em várias esferas. O programa contribuiu para reduzir os níveis de depressão e ansiedade, melhorando a performance e reduzindo o número de ausências dos trabalhadores no dia a dia nas empresas.
Tudo isso tem um impacto econômico. Pesquisas relacionadas ao tema estimam um prejuízo de 99,3 bilhões de euros por ano somente na Europa, relacionados à queda de produtividade derivada de problemas como ansiedade, estresse e depressão dos funcionários. Nos Estados Unidos, os empregadores estão perdendo entre 79 e 105 bilhões de dólares por ano pelos mesmos motivos, segundo o Centro de Prevenção e Saúde. O National Alliance of Healthcare Purchaser Coalitions vai mais longe: coloca esse número na marca dos 225,5 bilhões
No país norte-americano, os consultores do órgão sugerem que uma cobertura mais abrangente para cuidados psicológicos nos planos de saúde pode gerar um retorno financeiro de quatro dólares por cada dólar gasto pelos empregadores.
No Brasil, onde a presença de cobertura para saúde mental nos planos de saúde corporativos já é habitual e o próprio Sistema Único de Saúde oferece alternativas de tratamento e acompanhamento para as questões relacionadas ao tema, muitas vezes o que falta é o incentivo ao cuidado e a promoção de pequenas transformações na rotina de trabalho que podem gerar grandes diferenças.