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Planejamento estratégico de carreira: entre previsões e imprevistos

Publicado em 07/04/2021

Ao longo de 2020, a chefe de recursos humanos da rede varejista norte-americana Target, Melissa Kremer, passou a atuar em uma nova função na empresa: ela lidera um time de operações, tecnologia e propriedades da sede em Minneapolis para guiar decisões sobre a força de trabalho corporativa da empresa. Seu cargo, oficialmente, não mudou, mas ela atua como uma espécie de diretora de trabalho remoto, com atividades emergentes no mercado de trabalho e que, para muitos analistas de RH internacionais, se tornará formalmente uma nova posição dentro das companhias a partir da pandemia de Coronavírus.

Dois anos atrás, era impossível prever que um fenômeno de saúde pública reorganizaria as lógicas de trabalho do mundo inteiro. Porém, o trabalho remoto e a flexibilização das rotinas corporativas já aparecia como uma tendência. Quando isso aconteceu, Kremer estava preparada. Embora a função de coordenar atividades à distância já estivesse como coadjuvante entre suas atividades, ela conseguiu organizar e colocar em prática toda uma estratégica de realocação de 3500 funcionários, um feito que vai garantir economia de recursos e um possível redirecionamento de carreira para Kremer.

O caso dela ilustra uma situação que é recorrente em muitas companhias: o desafio de evoluir ou transformar a carreira quando se trata de executivos e diretores que atingem um patamar de estabilidade que, dependendo do ponto de vista, pode beirar à estagnação. Para alguns profissionais, o sucesso veio naturalmente. Para outros, foi preciso trabalhar muito e constantemente até alcançar as posições desejadas na carreira. Para todos eles, no entanto, um passo eventualmente se torna incontornável: o momento de parar, avaliar, reavaliar e planejar as próximas etapas.

A trajetória profissional é repleta de reveses e reviravoltas, quase sempre sem nenhum aviso. Ainda assim, traçar um plano estratégico com caminhos possíveis, antecipar movimentos do mercado ou da profissão, ler e acompanhar as novidades sobre a sua área de atuação para além da empresa onde se exerce aquela função são maneiras de estar sempre preparado para lidar com os desafios – os previsíveis e os imprevistos.

Planejamento pé-no-chão

O caminho para um planejamento estratégico de carreira começa com autoavaliação e observação. Olhar pela janela e bater um papo com os vizinhos é uma das melhores formas de enxergar novos caminhos e promover transformações ou evoluções profissionais. 

Para a sócia da Propósito/TRANSEARCH, Denise Klein, “é preciso ser flexível, persistente e resiliente, mas também é preciso cultivar networking”. Ela conta que, com frequência, o que limita ou impede a evolução dos profissionais que alcançam cargos sêniores ou de gestão é o interfoco. Muito preocupados em solucionar problemas pontuais e rotineiros da empresa ou mesmo em planejar o crescimento da companhia, deixam de lado aspectos de relacionamento que são fundamentais para conhecer outras formas de trabalhar e outras soluções que podem não estar no seu radar. 

Outro limitador é a tendência de mirar mais alto do que se pode alcançar em um determinado período de tempo. “Quando a gente fala em carreira, muitas vezes a pessoa não consegue evoluir porque coloca objetivos inatingíveis. É preciso autoconhecimento para ter autocrítica”. 

Mas, o mais importante, e em qualquer fase da carreira, é a fome pelo aprendizado: “O motor das pessoas tem que ser aprender continuamente, o bichinho do aprender tem que estar no DNA. A pessoa começa a ficar ultrapassada no dia seguinte em que ela terminou um curso. Tem que estar curioso em diversos momentos, sobre o que está acontecendo em outras áreas”, opina.

Autoconhecimento

Existem diversas maneiras de desenvolver, na prática, um planejamento estratégico de carreira, com o auxílio de programas já pré-desenvolvidos, como o apoio de profissionais especializados ou até mesmo com guias disponíveis na internet, que, claro, exigem disciplina. 

Todos os programas de planejamento começam com o autoconhecimento: é preciso conhecer o que se faz bem ou não tão bem, ou seja, pontos fortes ou pontos de melhoria, e também o que se quer ou não fazer. Caneta e papel – ou um bloco de notas no celular – precisam fazer parte desse processo. Anote, atualize, revisite essas anotações para entender se se trata de algo pontual ou se é algo que, de fato, não se quer fazer.

Pedir ajuda também é uma dica de ouro. Selecionar pessoas de confiança e que lhe conheçam bem, e, portanto, poderiam contribuir com uma boa dose de sinceridade, é uma bela maneira de receber feedbacks honestos e construtivos sobre seus pontos fortes e fracos. Para isso, valem amigos, familiares e colegas de trabalho. Essa ajuda também pode vir de pessoas especializadas – avaliações psicológicas ou consultorias, por exemplo.

Seja qual for, encontre uma metodologia e dedique-se a ela. Uma autoavaliação informal ajuda, mas ter um método criterioso, que exija dedicação de tempo e de recursos, contribuirá para que a autoavaliação e o planejamento de carreira sejam mais eficientes, mesmo diante de situações impossíveis de prever.