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Em tempos de crise, quem tem cultura organizacional sai na frente

Publicado em 27/05/2020

A palavra “cultura” tem duas raízes etimológicas conhecidas. Uma dela, inglesa, vem de coulter. A outra, latina, vem de colere. Ambos os termos estão relacionados à ideia de cultivo. O filósofo e crítico literário britânico Terry Eagleton, um dos mais dedicados teóricos do estudo da Cultura, sugere que a palavra Cultura mapeia, em seu desdobramento semântico, a mudança histórica da própria humanidade. Ela “acompanha as transformações do homem da existência rural para a urbana, da criação de porcos a Picasso, do lavrar do solo à divisão do átomo”, como sugere o próprio em seu livro A Ideia de Cultura.

Outros estudiosos da área, como os membros da renomada Escola de Birmingham, também na Inglaterra, entendem a cultura como “modos de vida”. Todo esse universo acadêmico pode parecer abstrato e distante da realidade empresarial contemporânea, mas, pelo contrário, estes estudos mostram uma direção para pensar como cultivar uma cultura organizacional eficiente.

Um grupo de cientistas da escola de negócios da universidade de Columbia entrevistou 1,4 mil CEOs e CFOs norte-americanos sobre este tema e as respostas apontaram para uma crença de uma consolidada maioria no fato de que a cultura de uma companhia está ligada ao sucesso financeiro e ao valor que a mesma apresenta à sociedade. Ainda assim, somente 15% deles indicaram que suas empresas de fato prestam atenção suficiente a este aspecto no dia a dia. Como e por que mudar essa realidade?

O primeiro direcionamento vem justamente da raiz da palavra: o cultivo. Com frequência, conhecemos cases de empresas que tentam impor uma cultura organizacional sobre seus funcionários, mas não a cultivam. São gestores que, na tentativa de implementar práticas alinhadas aos valores da empresa, não fornecem as bases para que seus colaboradores conheçam os fundamentos de tais valores nem que possam maturar e fazer com os mesmos produzam frutos.

No livro que se tornou um clássico do segmento e que possivelmente cunhou o termo “cultura organizacional”, Organizational Culture and Leadership, o professor do MIT Edgar H. Schein sugere quatro elementos que devem estar presentes para desenvolver a mesma em uma companhia: estabilidade estrutural, profundidade, amplitude e padronização ou integração.

A cultura, segundo ele, é o fundamento da identidade grupal, algo que várias pessoas têm em comum e que os mantêm em unidade mesmo quando um ou outro membro do grupo se aproxima ou se afasta. Se a empresa tem uma cultura organizacional bem estruturada e clara para seus colaboradores, são os valores por trás dela que ajudam a nortear as atitudes dos funcionários em situações nas quais os mesmos não chegam sequer a ser verbalizados.

Pensemos sobre o mundo em 2020, em meio a uma pandemia definidora de toda uma geração. Qual é a cola que segura sua empresa inteira e funcionando em um momento tão instável e intenso, que desestabiliza tudo e todos? A cultura organizacional pode ser a vantagem estratégica que as companhias precisam em cenários de gestão de crise.

Os impactos desta estrutura bem consolidada na cultura organizacional estão em diversas esferas. Com uma cultura organizacional saudável e bem estabelecida, os colaboradores se sentem mais seguros, conseguem produzir e render mais, pois encontram no “modo de vida” da empresa e nesta identidade grupal o lastro de que precisam para conduzir suas atividades.

Tendo em vista que cultura não é algo que se possa exatamente quantificar, é difícil identificar quais são os resultados concretos e diretos desta característica de uma organização – ou da ausência dela. Ainda assim, é possível analisar elementos que ajudam a compor um contexto em que há unidade e valores claros por trás das atividades empresariais para identificar o impacto disso no sucesso de uma marca.

Uma cultura organizacional clara e consolidada gera ao funcionário a sensação de estabilidade e segurança, diminuindo a rotatividade de recursos humanos e oferecendo espaço para melhora da produtividade. Se encontra identificação com os valores da empresa, o indivíduo se esforça mais para continuar conectado a ela, valoriza a companhia contribui para a construção da marca diante da sociedade como um bom lugar para se trab calhar.

Com valores firmes, a empresa atrai não apenas bons trabalhadores, mas também mais clientes. Diversos estudos, um deles com consumidores do mundo inteiro, já indicaram que pelo menos um terço das pessoas preferem contratar companhias que valorizam práticas positivas como sustentabilidade, por exemplo.

Em tempos de crise, o resultado vem a galope: empresas que se mantém firmes e alicerçam seus valores cotidianamente, também o farão quando o mundo demandar esforços a mais, assim como seus funcionários.