No começo de junho, a Nova Zelândia declarou que seu território estava livre de coronavírus. Na Europa, um dos países que melhor vêm combatendo a epidemia é a Alemanha, que conseguiu retomar boa parte das atividades econômicas muito rápido. Em Taiwan, o número de casos não passou dos 500, mesmo o país sendo vizinho da China, onde a contaminação começou.
O que esses três países têm em comum, já que estão em continentes distintos, apresentam culturas completamente diferentes e utilizaram abordagens também variadas? Para muitos analistas, o elemento em comum é a liderança: todos têm mulheres no cargo mais alto da política nacional. Jacinda Ardern, como primeira ministra da Nova Zelândia, Angela Merkel como chanceler alemã e Tsai Ing-Wen na presidência de Taiwan.
É claro que não se pode atribuir o sucesso de todo um esforço coletivo a apenas uma pessoa, mas é inegável que as atitudes da liderança impactam diretamente na maneira como os liderados tratarão a situação. O gênero é um dos fatores de impacto, neste sentido, e a forma como repercute sobre o formato de liderança adotado vem sendo estudado por pesquisadores de diferentes áreas.
Embora a presença feminina em cargos de liderança ainda seja diminuta – não chegando sequer a 5% em alguns setores -, quando conseguem alcançar a gestão, elas costumam se destacar e obter sucesso nos empreendimentos.
O que se verifica nos países, portanto, também se replica no universo corporativo. E um dos principais motivos, segundo a autora Angela Koch, é a empatia. No ambiente de trabalho, essa característica está associada à promoção de cooperação e compromisso, já que os colaboradores sentem que estão sendo ouvidos.
Na esfera das habilidades distribuídas entre os gêneros, a empatia é uma das skills consideradas femininas, assim como generosidade, curiosidade e inteligência emocional. O mesmo vale para a humildade, outra característica associada a lideranças femininas. Este aspecto também é tangente ao fato de que comportamentos que, nas lideranças masculinas, são atribuídos à autoconfiança, quando visualizados nas mulheres, passam a ser creditados à arrogância, o que denuncia os olhares ainda marcados pelo machismo estrutural.
Outro aspecto importante é a persuasão. Um estudo divulgado em 2005 pela Caliper sugere que, em parte justamente por conta da humildade e da empatia, líderes mulheres tendem a ser mais persuasivas do que os homens. Como sofrem de uma desconfiança prévia em tudo o que fazem, as mulheres se preparam mais e melhor e costumam apresentar uma ideia somente quando elas próprias estão convencidas de que estão corretas.
O mesmo estudo, que vai ao encontro de uma segunda pesquisa, desta vez pela Harvard Business Review, sugere que as mulheres tendem a trabalhar por um ambiente mais gratificante e completo, bem como têm mais iniciativas e são mais focadas no resultado.
Por fim, outra característica típica de lideranças femininas é a resiliência. Em geral, lidam melhor com situações de estresse no sentido de superar mais rapidamente o baque inicial do que os equivalentes masculinos.
É importante, no entanto, evitar uma visão pautada no determinismo biológico: para os pesquisadores, não se trata de “vocações”, mas sim, skills culturalmente desenvolvidas. Desde cedo, a grande maioria das mulheres ainda é criada para profissões voltadas ao cuidado do outro e à gestão do lar. Esse treinamento desde a infância acabou sendo operacionalizado por muitas mulheres e aplicado em suas atuações profissionais, de forma que marcam também seus perfis profissionais.